O Carrefour, uma das maiores redes de varejo do mundo,
anunciou no dia 07 de dezembro que decidiu encerrar sua operação de comércio
eletrônico no Brasil. Por trás deste anúncio, que aparentemente pegou muitos de
surpresa, está uma série de erros estratégicos e táticos comuns em empresas
físicas que iniciam sua operação virtual. Desde sua concepção, o negócio foi
atrelado à estrutura física e ao longo de seus poucos anos de vida o Carrefour
Online não soube lidar com o e-commerce como um canal independente, que requer
planejamento, agilidade e foco no mercado online.
Do ponto de vista estratégico, podemos citar alguns fatores
que levaram aos problemas do Carrefour.com.br, a começar com a lentidão para
sua decisão de entrada, isso fez com que seus concorrentes, cujo início da
operação de vendas online aconteceu até 10 anos antes, como é o caso do
Extra.com, ganhassem a experiência necessária no mercado para entender suas
peculiaridades.
Outro fator que prejudicou o negócio foi que a empresa
aparentemente não tratou a operação online como algo separado da operação
física, e as decisões, que precisam ser rápidas e desburocratizadas no caso das
vendas online, tinham que seguir os mesmo fluxos e processos das lojas físicas.
Isso fez com que ações simples, como contratações de fornecedores
especializados para o mundo online, chegassem a durar meses, pela falta de
entendimento do negócio. Além disso, claramente a loja virtual não representa a
loja física do ponto de vista da usabilidade, comunicação e seleção de
produtos. O Carrefour das lojas físicas é lembrado principalmente por suas
vendas de produtos para o dia-a-dia, e a loja virtual procurou um
posicionamento para brigar em um mercado extremamente competitivo no mundo
online: o de eletroeletrônicos.
Já do ponto de vista tático, vemos que a gestão da empresa
não soube lidar com o negócio, e a inaptidão fica clara em todos os níveis,
primeiro pela troca de gestores, ocorrida no início do ano de 2012, e em
segundo lugar pela incapacidade da gerência do e-commerce em entender os
caminhos da organização para mostrar que o negócio virtual é diferente do
físico e que exige que suas particularidades sejam atendidas para competir com
eficiência no ambiente virtual.
Outro ponto negativo foi que o Carrefour não soube explorar
o potencial do canal – a loja virtual não possuía diferenciais em relação à
concorrência e nenhum tipo de integração multicanal. Vamos tomar como exemplo o
Ponto Frio, um dos principais concorrentes do Carrefour.com.br: nos últimos
anos eles remodelaram o site e incluíram, entre outras funcionalidades, uma
ferramenta de busca inteligente que facilita a pesquisa dos consumidores para
encontrarem o que querem. Também podemos citar a Americanas.com que, apesar dos
problemas operacionais enfrentados, possui totens nas lojas físicas, que tornam
possível comprar na loja online, estando em uma loja física, e receber a compra
em casa, fazendo com que suas prateleiras fiquem “infinitas”, no jargão do
setor.
Finalmente, a empresa não apresentava uma política comercial
coerente, seu mix de produto estava longe de ser amplo e tanto sua política de
preços, quanto de ofertas, destoava da loja física, causando conflitos na
cabeça dos consumidores e público de interesse, e não deixava claro se estava
brigando com os varejistas online ou se praticando políticas de preços compatíveis
com suas lojas físicas.
Além desses fatores citados, também podemos mencionar como
agravante os eventuais problemas que a rede varejista está enfrentando com a
crise europeia, que podem ter afetado a capacidade de investimento na operação
virtual do Carrefour que enfrenta problemas, e por ser um e-commerce novo havia
a necessidade de investimento, principalmente devido ao descasamento do fluxo
de caixa, e necessidade maior de aporte devido as características do canal, por
conta do maior prazo de parcelamento médio das compras online de ticket de
maior valor.
Com tudo isso, o Carrefour mostra a falta de planejamento
com olhar para e-commerce, tão necessário para o desenvolvimento de uma
operação online. A falta de um norte leva a consequências desastrosas, como
decisões erradas, que muitas vezes não têm tempo de serem corrigidas e
consequentemente levam ao fracasso.
O crescimento das vendas virtuais nos últimos anos mostra
que o e-commerce é irreversível e que os varejistas que não atuarem com competência
neste canal irão perder o jogo no longo prazo, pois é a demanda natural dos
consumidores. O fechamento da operação de e-commerce do Carrefour é um alerta
para as redes de varejo que pretendem entrar ou mesmo que já entraram e estão
passando por dificuldades em sua loja virtual. O universo do comércio
eletrônico possui suas particularidades, e é necessário um planejamento
especial para este modelo de negócio, feito por pessoas capacitadas e com
experiência comprovada na atuação através deste modelo de negócio tão
revolucionário quanto complexo.
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